Antes de entrarmos nos detalhes temos que entender o verdadeiro
propósito dos sinais.
“Esse é o primeiro dos sinais que João
relata, e ele insiste que seu propósito para registrar esses sinais que João
relata, e ele insiste que seu propósito para registrar esses sinais era
convencer as pessoas de que o Cristo é o filho de Deus, é Jesus”. ( Carson)
Nós não vamos errar muito em nosso
entendimento desses versículos se procurarmos descobrir como eles alimentam a
fé em Jesus .
O pano de fundo é o próprio Antigo
Testamento, mediado pelo judaísmo do século I.
1-2 Primeiro dia uma delegação é enviada para
interrogar João Batista (1.19-28), o segundo dia encontra João Batista
anunciando Jesus como cordeiro de Deus (1.29), O terceiro dia traz dois
discípulos à residência de Jesus (1.35-42), e o quarto dia é apresentado Simão
Pedro e testemunha o incidente com Natanael.
O fato de eles terem sido todos convidados
para o casamento indica que era um parente ou amigo perto da família. Não é impossível
que Maria tivesse alguma responsabilidade na distribuição de comida: ai a
tentativa de lidar com a escassez de vinho (2.3). Se o elo entre os capítulos 1
e 2 são tão fortes provavelmente quem acompanhou Jesus foi: Andre, Simão Pedro,
Filipe, Natanael e o discípulo não identificado de 1.35 (João). Os doze são
mencionados em 6.7, mas João não dá informações de como e quando os outros sete
se tornaram seguidores de Jesus.
Uma celebração de casamento podia durar até
uma semana, e a responsabilidade financeira era do Noivo. O esgotar de
suprimentos era um terrível embaraço em uma cultura de ‘vergonha’; há algumas
evidencias de que o noivo podia também ser sujeito à abertura de um processo
pelos parentes ofendidos da noiva. O vinho que era necessário não era um mero
suco de uva, um genérico fruto da videira. No versículo dez, o mestre de cerimônias
espera que nessa altura da festa alguns dos convidados “já teriam bebido
bastante: o verbo methyso não se refere a consumir liquido em demasia, mas à
embriagues. Por outro lado, o vinho no mundo antigo era diluído com água na proporção de um terço e um décimo de seu
poder fermentado, isto é, algo mais fraco que a cerveja estado-unidense. O
vinho não diluído, com a aproximadamente mesma potencia do vinho de hoje, era
visto como bebida forte, e recebia muito mais desaprovação.
Como foi o primeiro milagre de Jesus,
provavelmente Maria não o chama pensando nesta probabilidade. É mais provável que
Maria tenha se dirigido a Jesus porque ela havia aprendido a depender de sua
habilidade. As tradições que fazem ela viúva neste período são bastante plausíveis:
Jose não aparece em cena após o episodio no templo, quando Jesus tinha doze
anos de idade (Lc 2.41-52) e Jesus não
era só conhecido como filho do carpinteiro (Mt 13.55), mas também como o
carpinteiro (Mc 6.3). Aparentemente, a situação financeira da família, até esse
ponto, dependia do seu trabalho manual. Como qualquer viúva, Maria dependia
fortemente do seu primogênito. Como isso devia ter sido fácil com um filho como
ele. Alem disso, de um ponto de vista literário, João repetidamente registra os
interlocutores de Jesus agindo de forma puramente humana e natural, enquanto o próprio
Jesus transcende suas questões, exigências ou expectativas. (3.3, 4; 4.15, 47; 5.6,7;
6.32,33, 41; 11.22-24)
4- As respostas de Jesus suscita comentários
sobre três pontos:
1.
A
forma de tratamento, gynai (NVI, ‘mulher’, BLH senhora)embora totalmente
cortes, não é normalmente um termo afetuoso, nem a forma de um filho se dirigir
a uma mãe muito amada. Quando Jesus se dirige a Maria da Cruz, ele usa a mesma
expressão (19.26) Equivalente em português é difícil de encontrar. Mulher é
muito distante, cara mulher é muito sentimental. Senhora não é muito usado.
2.
A
pergunta em si, ti emoi kai soi (lit o que é para mim e para você) gera um
grande número de traduções. O tom não é rude; mas certamente é abrupto.
Encontra-se também algum protesto ou recusa quando a expressão ocorre no grego clássico.
Alguns interpretes dizem a expressão significa: Que temos nós em comum, mulher?
(NVI), ou: Mulher, o que eu tenho contigo? (ARC). Estritamente falando,
entretanto, a expressão simplesmente pergunta o que é comum a você e a mim –
isto é, O que você e eu temos em comum. Não devemos evitar a conclusão de que
Jesus, ao reprender sua mãe, embora com cortesia, declara, no inicio de seu
ministério, sua completa liberdade em relação a qualquer tipo de conselho,
agenda ou manipulação humana. Ele já embarcou em seu ministério, o objetivo da
sua vinda; sua única estrela guia é a vontade do Pai. Isso devia ser estritamente
difícil para Maria. Ela havia o gerado, amamentado, ensinado em boas mãos,
visto ele cair quando aprendia a andar, bem como, aparentemente, ela havia
passado a depender dele como provedor de sua família. Mas agora que ele havia
entrado no propósito da sua vinda, tudo, inclusive os laços de família, tinham
de ser subordinados a sua missão divina. Ela não podia mais vê-lo como as
outras mães viam seus filhos, ela não tem mais as prerrogativas da maternidade.
É um fato notável que toda vez que Maria aparece durante o curso do ministério
de Jesus, ele se esforça para estabelecer uma distancia entre eles ( Mt
12.49-50) Isso não é indiferença da parte de Jesus: sobre a cruz, ele faz a
provisão para o futuro dela (19.25-27). Mas ela, como qualquer outra pessoa,
deve vir a ele como o messias prometido, o cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo.Nem ela nem ninguém mais ousariam presumir aborda-lo com excessiva
intimidade – uma lição até que Pedro teve que aprender (Mc8.31-33).Essa lição
não poderia ser mais difícil do que para a mãe de Jesus; e talvez essa fosse
parte da espada que atravessaria a sua alma (lc 2.35). Por isso devemos
honra-la ainda mais.
3.
A
razão que Jesus dá para a distancia entre ele e sua mãe deve ser vista a luz da
cruz. A minha hora ainda não chegou (NVI) a palavra hora constantemente se
refere a sua morte sobre a cruz e à exaltação ligado a ela (7.30; 8.20; 12.23,27; 13.1; 17.1), ou as consequências dela
(5.28,29), assim não seria antinatural entende-la de qualquer outra forma aqui.
Mas como isso poderia ter sido uma resposta para Maria? E o que se esperaria
que o leitor entendesse a partir de uma referencia tão enigmática?
Para responder a essa
primeira a segunda pergunta, a retoria chamaria esse tipo de referencia de
prolepse interna, uma referencia a um tema que será desenvolvido mais a frente
ou um evento mais tarde na narrativa. Tal mecanismo prende o interesse do
leitor e faz perguntas: o que significa hora? Quando virá essa hora. Ela, ao
estimular a curiosidade do leitor encoraja uma leitura mais atenta; alem disso
o livro se torna mais profundo e mais complexo quando lido pela segunda vez ou
vezes subsequentes. Antecipado o desenvolvimento do tema, nós, portanto,
notamos que a hora da morte, ressurreição e exaltação de Jesus para a gloria é,
na primeira parte desse evangelho, constantemente referida como algo que ainda
não chegou, até a entrada dos gentios (12:20). Desse ponto em diante, com Jesus
à beira da morte diz-se que a hora chegou (13.1 ao 17.1)?
Isso nos leva a
primeira pergunta: Como poderiam as palavras de Jesus servirem de resposta para
Maria? Ela está aparentemente pedindo para Jesus para fazer algo para remediar
a falta de vinho e ele responde que a hora da sua morte/exaltação ainda não
chegou. O ponto de conexão é provavelmente triplo.
1.
Embora
Maria provavelmente apresentasse a necessidade de vinho em termos mundanos,
Jesus, detecta mais simbolismo em vários enunciados que o falante pretendia. Maria
quer que o casamento termine sem embaraços; Jesus lembra que os profetas
caracterizavam a era messiânica como um tempo quando o vinho fluiria
liberalmente. ( Jr31.12, Os 14.7, Am 9.13,14). Em outro, ele mesmo adapta o
casamento como um símbolo para consumação da era messiânica (Mt 22.1-14;
25.1-13). Tratando o desenvolvimento das circunstancias como uma parábola encenada,
Jesus esta inteiramente correto ao dizer que a hora do grande vinho, a hora de
sua glorificação ainda não chegará.
2.
Embora
todo o evangelho se mova em direção da cruz, para a glorificação de Jesus, não
se deve pensar que o ministério de Jesus antes da cruz foi irrelevante, ou mera
preparação. Antes, elementos individuais naquele ministério anteciparam a
glorificação de Jesus na cruz, da mesma forma como se diz que os milagres
feitos por Jesus nos evangelhos sinóticos anteciparam a cruz. É por isso que João
reporta no fim desse primeiro sinal, que os discípulos testemunharam a gloria
de Jesus e creram nele. Eles já vislumbravam algo da gloria ainda a ser
revelada. Jesus esperava para a glorificação total que seria a morte e
ressurreição.
3.
Terceiro,
é bem possível que o evangelista veja uma conexão com 3.27-30 em que identifica
Jesus como o noivo messiânico. Assim, ele suprirá todo o vinho que for
necessário para o banquete messiânico, mas sua hora ainda não chegou. À medida
que essa historia se desenvolve , ele, misericordiosamente
,
compensa as deficiências do noivo desconhecido de João 2, em antecipação da
forma perfeita em que ele mesmo preencherá a função do noivo messiânico.
5 A mãe de Jesus, ao dizer ao servos: Façam
tudo que ele lhes mandar, evita a gentil repressão e da um exemplo do melhor
tipo de fé , a perseverante. Assim como a mulher Cananéia que foi reprendida
por sua abordagem presunçosa, mas que perseverou e que foi louvada por sua fé (
Mt 15.21-28), também Maria é reprendida por tirar vantagem dos laços de família,
mas ela manifesta a fé em que está perfeitamente contente de deixar a questão
nas mãos de Jesus. Em suma, em 2.3, Maria aborda Jesus como sua mãe e é
reprendida; em 2.5, ela responde como crente e sua fé é honrada.
Esses dois versículos (2.4,5), por mais difíceis
que sejam, ajudam a moldar esse relato do primeiro milagre de Jesus e asseguram
que o foco é a gloria de Jesus (2.11) não a da fé de Maria ou a fé dos discípulos
(2.11) incluindo a de Maria (2.5).
6 Cada pote armazenava duas ou três medidas,
em cada medida equivale a oito ou nove galões. Os potes juntos armazenavam,
aproximadamente, entre cem e cento e cinquenta e cinco galões ( entre 451 e 699
litros).Eram feitos de pedra( usados para as lavagens cerimoniais) porque não
contraiam impurezas como o barro. O propósito deles prove uma pista para um dos
significados do realtos, a água representa a velha ordem da lei e os costumes
judaicos que Jesus teve que substituir por algo melhor.
7-8 os servos, até aquele momento, tinham
tirado água para encher aqueles recipientes usados para as lavagens
cerimoniais, agora eles devem tirar a água para levar a festa qie simboliza o
banquete messiânico. Encher os potes com grande capacidade, até a borda,
indica, portanto, que o tempo para a purificação cerimonial está completamente
cumprido, a nova ordem, simbolizada pelo vinho.
9-10 Há agora uma evidencia, pois a maioria
dos noivos serviam o melhor vinho primeiro, reservando o inferior para o final
da festa. O que João diz é que o vinho que Jesus forneceu é muito superior,
como deve ser tudo que está ligado a nova era messiânica a qual Jesus está
trazendo
11- João termina o relato assim: Esse foi o
primeiro de seus sinais miraculosos. Primeiro pode também significar primário,
o tempo que Jesus está inaugurando, o tema da nova criação. O novo testamento usa diversas palavras para
a milagres: Dynameis (obras poderosas, mas não aparece em João que prefere a palavra
sinais e maravilhas. Prefere porque não são apenas manifestações significativas
de poder,mas sim manifestações que apontam para alem de si mesmos, para
realidades mais profundas que podiam ser percebidas com os olhos da fé.
Com esse sinal, Jesus revelou a sua gloria,
gloria como do unigênito vindo do Pai, cheio de graça e verdade. Sua gloria
maior seria revelada em maior medida em sua cruz, ressurreição., mas cada passo
ao longo do seu ministério era um prenuncio daquela glória. Os servos viram o
sinal, mas não a gloria; os discípulos, pela fé, perceberam a gloria de Jesus
por trás do sinal e eles creram nele.
O que fica claro é que o primeiro sinal ligado
com a declaração sumaria do próprio livro em 20.30,31. O tempo viria quando a
bem aventurança fosse pronunciada sobre novas gerações de seguidores, não
podiam ver esses eventos, mas que, não obstante, creram e viram algo da gloria
do Filho. (20.29)
Estudo retirado do livro Comentário do evangelho de João Da Carson